18 de julho de 2011

O trabalho por conta de outrém. Cap. 1, O telefone

Não gosto de falar ao telefone com pessoas que não conheço e a quem tenho de pedir coisas. Até há pouco tempo respondia "é a mesma" em vez de "é a própria", só para verem o jeitinho. Não tenho muita coragem para ligar assim à maluca. Prefiro ir falar para longe e de preferência em cantos. Assim baixinho à la autista.
Coro que nem um peru (se o peru corasse), atrapalho-me e tento despachar como se estivesse na reta final do supermercado. O que dá merda, porque depois não me lembro do que se falou. Não vos quero desenhar uma imagem indefesa e "ai de mim sou uma menina católica" mas que depois leva na pandeirola como gente grande. Nada disso. Mas assusta-me o contacto desprevenido com estranhos. Pelo menos assim à primeira.
Maneiras que, vivendo neste século que vivemos que é mais moderno que os outros anteriores, e onde existem endereços de e-mail, não partilho da necessidade de falar ao telefone. Ainda por cima, os mails têm uma grande vantagem que é a consulta warp speed que dá logo para ver quem tem culpas no cartório. Afinal o trabalho é mesmo isso, tentar safar o próprio e mais nenhum e escolher aquele pequenino poder dentro do escritório. Depois é só defendê-lo como se fosse a nossa própria aldeia a arder.

- Ninguém carrega no botão do fax do lado direito sem me pedir. Fui eu que descobri esse botão *espuma escorre pelo lábio inferior*. Ouviste Maria Luísa da Contabilidade? E minha menina, não penses que não te vi a usar os 5 cêntimos que estavam em cima da máquina, que a Lurdes deixou lá para o café das 16h50. Aliás, toda a gente viu. Estavam a comentar no intervalo das 17h02 quando ela andava esbaforida à procura do dinheiro. Lá por dormires com o 3º Director do Departamento das Sub-Divisões Superiores pensas que podes fazer isso sem te dizerem nada. Fica a saber que te proíbo de te sentares na mesa do almoço connosco durante 1 semana. E já é uma sorte não te tirar o direito de usar o papel higiénico de duas camadas que chega à segunda-feira mesmo antes da fruta.

1 comentário:

  1. Inspirador. Talvez o meu problema seja não trabalhar num escritório. Por outro lado, assim tenho tempo para andar por aí a deixar comentários sem interesse.

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